quarta-feira, 16 de maio de 2012

“Impressão digital” de uma canção


“Impressão digital” é o que diferencia qualquer pessoa, por mais parecida que seja uma com a outra. Também utilizo essa expressão para definir a individualidade de determinadas canções. Costumo chamar de “impressão digital da música” os elementos marcantes que podem ser usados por uma pessoa para descrever determinada canção à outra pessoa sem precisar lembrar da letra ou do título desta canção. Por exemplo: Como você descreveria a música “Walk Of Life” de Dire Straits para outra pessoa sem falar o nome ou a letra da canção? Você consegue imaginá-la sem o seu riff principal? 






Observe a canção “Last Night”, um dos maiores sucessos do gaitista Little Walter e tente perceber suas características sonoras principais. Embora sua primeira versão possua uma levada “Walking Bass” a segunda tornou-se mais conhecida entre os fãs por possuir um riff que praticamente batizou esta canção:




Existe uma gaitista em São Paulo chamada Tiffany Harp. Ela faz covers de Little Walter com a sua banda e toca essa música preservando os arranjos originais, inclusive, fez questão de tentar copiar o solo de gaita do Little Walter. O Guitarrista e o baterista também mantêm-se fieis à “linguagem” do original a todo o momento. O diferencial foi a inserção de um solo de guitarra:


Outro exemplo parecido é a banda “No Time For Jive”- onde o gaitista já se permite solar mais livremente, embora a banda permaneça fiel aos arranjos da gravação do Little Walter...  


Ainda que tocada com apenas um violão, é possível preservar a impressão digital da música, como mostra o próximo vídeo: 




Já na I-PAR ONISHI BLUES BAND, tanto o baterista quanto o guitarrista não mantêm a linguagem do original. O guitarrista faz inúmeras pontas (o tempo todo) e um solo até bonito, só que com um timbre mais para “texas Blues do Steve Ray Vaughan” do que um “Chicago Blues”. O gaitista usa uma gaita cromátca e faz solos com uma intenção “Jump Blues” em terceira posição, que já é outra história. No entanto, eles mantêm uma levada de baixo que é bem próxima da “impressão digital” da música...




 
Agora os vídeos a seguir são o que chamo de “descaracterização da música” ou seja, quando pessoas tocam sem qualquer comprometimento com a impressão digital da canção, tendendo a cair numa zona de conforto que, sem querer, torna todas as canções de blues iguais. É importante ressaltar que não estou criticando a execução dos músicos nos links à seguir, apenas digo que, de modo intencional, ou não, eles enquadraram a música Last Night numa linguagem “genérica”. Por melhor que tenham sido tecnicamente as suas performances, a sensação é de estar ouvindo um blues improvisado qualquer e não uma canção individual que possui características próprias que a destiguem de outras. 



Resumindo, mantendo a impressão digital que determinadas canções possuem ou fazendo releituras e compondo novos “riffs” que realizem esse papel, as canções de blues soarão diferentes umas das outras dentro de um repertório. Ao não se importar com esses detalhes os blues tendem a ficar todos iguais. 

É importante frisar que essa postagem faz parte do modo como eu enxergo o assunto, não sendo, por tanto, uma verdade absoluta. É apenas a minha opinião enquanto músico e observador. Comentem...