domingo, 2 de outubro de 2011

Três gaitistas e uma grande história!


Zona Harmônica - Crédito de Carlos Delagusta

Com a evolução da tecnologia, entre as décadas de 1930 a 1960, o rádio viveu no Brasil sua chamada Era de Ouro, estabelecendo-se como a principal mídia para divulgação de informações e lançando grandes talentos musicais. A partir da década de 1930, quando não existia televisão, e muito menos a internet, surgiram as primeiras rádios nacionais, como a Mayrink Veiga, Jornal do Brasil e a Rádio Tupi. Essas emissoras criaram programas de auditório que se tornaram muito populares e promoviam, regularmente, concursos de gaita patrocinados por fábricas de renome.

Foi assim que grupos de harmônica despontaram nacionalmente, formando no país uma tradição de “gaiteiros”(assim eram chamados na época), duos, trios, quartetos e até orquestras de gaitas de relativo sucesso, com repertórios que apresentavam uma rica e exótica sonoridade. Diversos tipos curiosos de Harmônica eram utilizados. Gaitas compridas, quadradas, côncavas, convexas, variando de três centímetros, como a pequenina “gaita chaveiro”, até um metro, como a espaçosa "Chord Harmonica" (gaita de acordes). Destacavam-se, nesse contexto, a Gaita Baixo e a Gaita Cromática. Esta última, normalmente, se sobressaía como instrumento solista nesses grupos. Entre o casting de gaiteiros, havia nomes como Edu da Gaita, Manoel Xisto (Fred Willians), Zesinho de Lima (Kley Willians), Sigmundo Gargiter, Sydney Barreto, Ilizeu Landi, Leo Barros, Clive Pelbaum, Raymundo Paiva, Clayber de Souza, Omar Izar, Néveo, Maurício Einhorn, dentre outros profissionais que protagonizaram a história da gaita brasileira, ora tocando só, ora formando grupos. Hoje, muitos desses gaiteiros são parte de um patrimônio nacional, em geral, sem registros visuais e áudio-visuais, alguns pouco lembrados, mesmo entre aqueles que tocam o instrumento.

A força desse legado, no entanto, não deve ser subestimada. Mesmo distante no tempo e na memória, os grupos de harmônicas podem exercer, ainda, uma influência marcante naqueles que se dedicam a estudar o instrumento com profundidade como o gaitista Luiz Rocha, nome expressivo entre os gaitistas nacionais. Ministrando aulas de gaita em Salvador/Ba desde 2004, ele conheceu Breno Pádua, uma das primeiras pessoas que estudou com ele, a quem ele ensinou alguns dos princípios básicos da gaita do tipo “diatônica”, comumente utilizada no blues, rock e no country. A amizade entre os dois veio a se estreitar a partir da paixão pela gaita e do convívio na produção dos eventos do Projeto Papo de gaita, idealizado por Luiz. Em um dos eventos realizados, Leo Barros, ex-integrante do único trio baiano de harmônicas, atuante na década de 60, demonstrou para o público uma relíquia daqueles tempos, uma gaita baixo. Isso foi suficiente para aguçar o interesse de Ramon El-Bachá, um assíduo frequentador dos encontros do Papo de Gaita 2010. Ramon envolveu-se tanto que terminou adquirindo a sua própria gaita baixo, passando a estudá-la com afinco.




Empolgados com as possibilidades sonoras deste “contrabaixo de boca” de Ramon, Luiz e Breno o convidaram para um projeto audacioso: a formação de um novo trio de gaitas soteropolitano, o Zona Harmônica. Nessa empreitada, eles já contaram com o suporte rítmico dos percussionista Ricardo Hardmman, Fábio Rigueira, e atualmente esta função está com o baterista Diogo Barreiros. O grupo traz ao público um repertório repleto de temas consagrados dos mais diversos gêneros e ritmos musicais como Summertime (George Gershwin), Smooth (Carlos Santana), O ovo (Hermeto Pascoal), além de algumas composições próprias como Lua Nova e Promenard Solepon, de autoria do trio. Os arranjos inicialmente orquestrados por Luiz Rocha e agora fruto da própria interação do grupo são uma grata surpresa e uma inovação em relação ao formato mais tradicional dos grupos de harmônicas, uma vez que focam 90% de seu repertório na utilização de gaitas do tipo "diatônica". Isso não é muito comum em trios desta natureza. Assim, o Zona Harmônica busca demonstrar que um pequeno instrumento pode realizar grandes execuções musicais.




Um comentário:

Dado Costa™ disse...

Vida de casado é muito bom, mas me impede de várias coisas (as vezes...)...e uma delas foi de prestigiar o amigo Luiz Rocha juntamente com mano Breno e o grande Ramom em "Zona Harmônica". Peço desculpas por não comparecer! Mas fica o meu desejo de sucesso para a banda e mais ainda a difusão da harmônica!

Abração e que Deus os abençoem SEMPRE!